Rei Morto, rei ainda não posto, então vamos lá:
Ao meu ver a seleção brasileira vem sofrendo uma crise de identidade. Não há critérios em nenhum dos lados, seja na cúpula da CBF, seja na torcida, seja nos críticos, etc. Ao mesmo tempo que se fala em "resgate do futebol brasileiro", se coloca o nome do Tite como o merecedor do cargo de técnico. Qualquer um que acompanhou mais atentamente o Corinthians nos últimos anos sabe que isso é uma piada.
Primeiramente, e é apenas chover no molhado, não temos uma cúpula entendida de futebol. Quem está lá é a autêntica cartolagem das antigas, caras que apenas estão pelo cargo, não pra fazer algo. Sempre tomam/tomarão medidas populistas e nunca técnicas. Dito isso, fato é que precisamos definir o que pretendemos. Se a intenção é resgate do futebol brasileiro, então não podemos imaginar o nome do Tite como o mais indicado pra isso. Tite, assim como os demais gaúchos que dominaram o comando técnico nos últimos 8 anos, é um treinador que preza muito mais pelo setor defensivo, pela marcação e pela saída rápida em contra-ataques do que num futebol vistoso, de imposição. Se a opção for por ele, veremos um time bem postado defensivamente com saídas rápidas pro contra-ataque. Mais ou menos o que a Argentina apresentou, mas com jogadores inferiores.
Nos últimos 20 anos, o mais próximo do que se imagina a nível de futebol impositivo que vimos foram sob o comando de Parreira e Luxemburgo - e aqui não estou pedindo nenhum dos dois, estou apenas citando. Sem me alongar nas análises sobre o trabalho dos dois, mas tanto o time do Parreira (em suas duas passagens) quanto do Luxa, apresentavam um futebol impositivo, isto é, a iniciativa era sempre da seleção brasileira, a posse de bola era sempre nossa, independente do adversário. A frase "o gol é um detalhe" na verdade era precedida de "o importante é ter a posse de bola, pq quando vc tem a bola, não está sendo ameaçado". Pois esse é o lema de Espanha e Alemanha, as melhores seleções dos últimos anos. Tendo a bola, o gol saí naturalmente.
Já com os gaúchos, o lema é ter uma defesa compacta e uma saída forte pros contra-ataques. Foi assim que Felipão montou o time em 2002, Dunga ao longo de sua gestão e assim será com Tite. Nem vou citar o Mano pq ele tava perdido.
Essa dupla Felipão-Parreira, hj analisando, não deu liga. O time nem foi impositivo, como Parreira gosta, nem foi veloz nos contra-ataques, como gosta Felipão. Ficou no meio do caminho e deu no que deu.
A questão é: o que queremos? se optar pelo dito resgate do futebol brasileiro, temos que buscar um nome que não está aqui no Brasil, pois o único treinador que vejo armar times próximo disso é o Cuca, mas ele claramente não tem condições emocionais de liderar uma seleção brasileira. E outra, temos que ter paciência. Isso pq a torcida brasileira é bipolar. Um dia somos imbatíveis, no outro dia tá tudo errado. Parreira entre 2002 e 2006 fez um belo trabalho. Acabou sendo engolido pelos baladeiros e ali lhe faltou pulso, mas até então, ele havia deixado a seleção com cara de seleção brasileira. Time ofensivo, que mantinha a posse de bola, que criava jogadas com naturalidade. Aqui rasga-se um trabalho com muita facilidade, pq não aceitamos perder. Uma eliminação numa Copa América da vida é o suficiente pro treinador virar um lixo. Sabella perdeu uma Copa América em casa, logo nas quartas, mas foi mantido e a Argentina chegou na final da Copa. Aqui, raros são os que conseguem completar o ciclo. Se optarmos pelo tal resgate, temos que ter muita paciência, inclusive pra eventuais sapatadas, pq um trabalho desse não se cria do dia pra noite. Exemplo é a Alemanha, que acumulou fracassos e mais fracassos até chegar lá. Mas eles acreditavam no trabalho e aqui, uma derrota basta pra vermos tudo errado. Os Mauro César da vida estão sempre com uma metralhadora apontada, independente do que estiver acontecendo e do trabalho que estiver sendo feito.